Nesses dias eu abri a página do blog dezenas de vezes. Não sei se me faltou palavras pra escrever ou se fugi de encarar o que sinto, de expor toda a confusão que entra em choque, e parece sair faíscas, entre meus pensamentos e o meu coração. Salvei diversas imagens que talvez pudessem me ajudar a começar algo, ou que eu nem precisasse dizer nada, de tão expressivas e doloridas que eram.
Noite de primeiro de maio, feriado, chove forte por aqui, e esse foi o principal motivo que me fez escrever. Aliás, a tristeza desse tempo frio me puxou pra frente do computador, me obrigando a derramar cada lágrima, cada gota de sangue desse coração que nem sabe mais pelo quê as batidas estão sendo induzidas. Eu resolvi escrever, na tentativa de esvaziar um pouco tudo que tem me sufocado nos últimos dois meses, pra vê se sobra um espaço, pra eu respirar um pouco menos angustiada.
Todos os dias me pergunto como cheguei neste estado. E porquê eu não consigo enxergar nada além da minha confusão interna. O coração dói muito, parece perfurado, parece jorrar sangue por todo o resto do meu corpo. O acordar parece pesadelo. Nem acredito que já terei de encarar tudo de novo. Olho em volta, custo acreditar que estou de volta ao quarto, que tudo está no mesmo lugar, menos minha felicidade. Tento prolongar o sono, pra sair imediatamente daquele lugar que reflete entre montes e poeiras o descaso da minha vida. O que me conduz é a rotina. Nada novo acontece, exceto os dias que fujo do roteiro e insisto em não comer. As pessoas parecem ter outro rosto. Causam-me sensações diferentes de outrora. O sorriso é forçado e a educação é robótica. As horas iguais, costume nosso, só me lembram que eu mesma penso em mim, no que me transformei, no que me transformaram e, sinceramente, me dá pena e desespero.
Confundi tudo. Filtrei errado do espiritismo que não posso ser superior a ninguém, o que dificulta minha volta por cima. Filtrei errado do cristianismo que meus atos me tornam pecadora, merecedora de algum castigo, o que reforça meu próprio julgamento de permanecer à mercê das feridas que eu mesma causei.
Cada minuto de realidade do fim, causa euforia por dentro. Vontade de gritar, de sumir, de desistir do que ainda falta, de me trancar e aceitar minha condição de não ter cura. Hoje eu cobro de mim uma maturidade que vivi esperando o tempo trazer.
Nada mais me define melhor do que a palavra "morte". Morri por dentro, morri pra vida, morreram meus sonhos, morreu meu sorriso. Para as pessoas que me sacodem com o tema "morte", queria que soubessem que nada mais há de ser feito. Não são os remédios, que tenho tomado, que anteciparão o que tanto me alertam. O que falta morrer é a matéria. Mas, de que adianta preservar o corpo, se todo o resto já morreu? Impossível viver, impossível SOBREVIVER. Eu não sou mais a mesma. Procuro em mim o sorriso que vejo nas fotos, a vida que vejo nas fotos. Não encontro nada. Não consigo sentir nada daquilo que me impulsionava há meses. Me sinto culpada, me sinto triste, me sinto só. Só isso que eu consigo sentir.